A paulista Angélica Ksyvickis está numa nova fase. Não quer mais contar com empresários, pretende tocar sua carreira sozinha e ter mais controle sobre seus passos. Aos 26 anos, com o namoro engatado com o cantor Maurício Mattar, depois de um período de turbulência, a apresentadora demonstra estar farta da imagem da menina comportada que a mídia exibe desde que ela tem 11 anos de idade, quando começou a trabalhar. A filha caçula de Angelina Ksyvickis conversou com Gente antes da gravação do programa Angel Mix, da Globo. No camarim, enquanto era maquiada e penteada para entrar no ar, ela contou da nova programação - irá estrear em 2000 um programa infantil e um adulto - e de como gostaria de manifestar suas opiniões sobre mais assuntos. Sente-se obrigada a manter uma imagem por causa do público de seus atuais programas. Por perto, a equipe de apoio e a inseparável irmã Márcia, 37 anos, sua assessora, acompanhavam a entrevista. A influência familiar ainda é grande, a ponto de Márcia opinar até em questões pessoais de Angélica, como o número de filhos que ela pretende ter. "Um filho e não se fala mais nisso", disse Márcia, quando a apresentadora foi indagada sobre seus planos. "Acho que quero dois e ainda adotar mais um", discordou Angélica.
Como está o namoro? Está mais tranqüilo. Antes, a gente tinha a sensação de que se não estivesse junto, o mundo ia acabar. Não era um namoro normal.
Vocês pensam em morar juntos? Ainda não. A gente iria adiantar um processo e agora estamos namorando de forma mais normal. A gente vai começar a se conhecer mais, antes era tudo conturbado, tudo era demais.
Como foi crescer dentro da televisão sendo cobrada? Você sofreu? Eu acho que isso potencializou o meu perfeccionismo, a minha tendência de me cobrar, de querer antecipar as coisas para que as pessoas não cobrem tanto. Comecei a trabalhar esta ansiedade no analista, de uns quatro anos para cá. Tinha perdido um pouco a noção do que é certo e errado, porque todo mundo fala muita coisa. Se você não é muito centrado, acaba pirando porque todo mundo dá sua opinião e você não tem sua opinião.
Você é muito influenciada por sua família? Não só por ela. São muitas pessoas que esperam muito de mim. Tenho um contrato com a televisão, com uma gravadora, e tenho que dar satisfação a essas pessoas todas, de tudo na minha vida. Então, se você não tiver sua vontade definida, acaba perdendo a identidade. E isso não pode acontecer, principalmente quando se trabalha com o público infantil. Quando não se está com brilho, as crianças percebem rapidinho. O que você está fazendo tem que ser verdadeiro, senão a coisa aparece. Pode até dar certo um ano, dois, até dez, mas alguma coisa vai estar errada: ou você vai estar fazendo mal a si mesma ou vai acabar essa mentira depois de dez anos.
Você ficou ansiosa com a estréia do Globinho, que estava programado para estrear em 1999? Fiquei, pois foi uma fase muito conturbada. Havia decisões a tomar, projetos a aprovar, dúvidas e muita espera. Foi um período que eu saí um pouco do meu prumo e fiquei nervosa. Agora estou tranqüila, pois já ficou definido que o Talma está vindo para o núcleo desse programa, começamos a gravar em fevereiro, estreamos no final de fevereiro. Depois de estrear o Globinho, irei pensar no programa adulto que começa em abril, aos sábados. Sinto falta de ter um programa para um público juvenil e adulto, que cresceu comigo.
Você vai trabalhar mais? Esse é o problema. O Flora Encantada terá de diminuir, vou ter de adequar os horários. O ideal seria que existissem duas Angélicas. Logo que vim para a Globo, eu fazia Caça Talentos e Angel Mix, gravava quatro vezes por semana, além dos comerciais e outras coisas. Foi uma época que parei de malhar, de me cuidar, fiquei mal, comecei a engordar, não foi bom. Não quero cair nisso de novo.
Você estava insatisfeita com a Rede Globo? Eu estava insatisfeita comigo por não ter conseguido acertar o projeto do Globinho, de não ter estreado em 1999. Fiquei infeliz mesmo no dia do meu aniversário, porque não tinha conseguido estrear e o show não havia dado muito certo, tive que ver as coisas meio sozinha. Mas não posso dizer que eu esteja insatisfeita com a Globo, não. Acho que estão todos aqui na casa passando por mudanças, de estréias, de não-estréias, de mudanças conceituais. A televisão mudou muito, hoje a maior concorrência não é de outras emissoras, mas de canais a cabo. Em segundo lugar de audiência estão o videogame, o computador, os canais que exibem desenhos. O meu programa é líder de audiência na manhã. O Pokémon quando entra é uma coisa. Tenho certeza de que se fosse no meu programa a imprensa teria caído de malho, estariam falando que a Globo estava colocando um desenho violento. Mas como é outra emissora ninguém fala muito.
Como você lidou com a imagem da menina virgem? Foi jogada de marketing? Acho que foi um marketing da mídia e eu acabei entrando nele de gaiata, ingenuamente. Os jornalistas me perguntavam se eu era virgem e eu respondia que sim. Lógico, tinha 14, 15 anos. Mas só que foi passando o tempo, eu com 16, 17, 18 anos, e o apelo era o mesmo, o da garota virgem. Hoje, em relação a vários assuntos na mídia estou começando a impor limites.
É verdade que sua carreira foi planejada com detalhes, como o anúncio para a imprensa da perda da virgindade? Isso foi falado por um empresário, que na verdade nem é empresário, mas não é verdade. Todo artista tem seus parasitas, e eu também estou cercada por eles. São pessoas que vivem junto com você, se acham empresários, são fãs, pessoas que começam a falar por você, inclusive besteiras em seu nome. É preciso saber lidar com isso. Hoje estou com minha carreira mais na minha mão, mas até os 22 anos eu não tinha noção das pessoas que trabalhavam comigo. E nem queria ter. E isso é bastante complicado.
E a terapia? Eu faço e volto, mas não continuamente, por falta de tempo. Ela foi um início no processo de autoconhecimento. Hoje estou conseguindo manter as coisas em ordem aqui dentro, embora seja difícil. É muita influência, existe o ego próprio do artista, existe um mundo de hipocrisia e mentira nessa área. Há também o fato de que às vezes você tem que demonstrar uma coisa que não é. Não pode opinar sobre determinados assuntos, pois é uma pessoa pública e pode influenciar.
Sobre o que gostaria de falar, por exemplo? Gostaria de expor mais minha opinião sobre programas de televisão, mas é complicado, não fica ético. Também sobre política, gostaria de opinar mais, mas acho que fica difícil porque tenho um público adolescente.
Você não pode opinar sobre assuntos como drogas? Posso, embora prefira não me aprofundar. Em relação às drogas, sou supercontra. É covardia entrar nas drogas para encontrar alguma saída, e acho que a gente não veio ao mundo para ser covarde.
Você já experimentou? Não, nunca tive vontade, sempre achei muito ruim. Convivi com o assunto muito cedo, no meio, e sempre vi pessoas com dificuldades porque entraram nas drogas. Para mim, é uma coisa triste.
Como você encarou a relação com o Maurício Mattar, que teve envolvimento com as drogas? O bom do Maurício é que ele sempre assumiu, e isso facilita as coisas. Eu também já sabia disso quando comecei a namorar com ele. Acho que a experiência que ele teve pode ser útil para adolescentes, ele pode falar em palestras sobre as dificuldades pelas quais passou. Eu nunca experimentei, mas tenho opinião formada sobre isso. Fui e sou protegida pelos meus pais, mas isso não me impede de namorar uma pessoa que tenha tido envolvimento com drogas, de ter colegas ainda envolvidos e tudo mais. Eu sempre fui preparada para o mundo pelos meus pais.
Você disse que pensa em casar e ter filhos. Quantos filhos quer? Acho que eu quero dois. ("Um e não se fala mais nisso", corrige a irmã Márcia, ao lado de Angélica.) Não quero deixar de formar a minha família, mas também não quero deixar de trabalhar porque eu gosto muito. Já falei que queria ter quatro ou cinco, hoje sou mais pé no chão, acho que dois está bom. Para adotar um terceiro, que é um sonho.
A Márcia é assessora e controla sua agenda. É complicado trabalhar com a irmã? O lado bom de trabalhar com a irmã é o da intimidade, e o lado ruim é o da intimidade, porque não se trata das coisas muito profissionalmente, perde-se o limite, o profissional vai para casa.
Você tem empresário? Tinha o Marcos Saraiva, mas agora ele só cuida dos licenciamentos. Não pretendo contar mais com empresários na minha vida. Infelizmente, o empresário tem o poder de falar por você e a gente corre o risco de se acomodar e deixar tudo na mão dele. Quero ter a minha vida cuidada por mim. Geralmente, os empresários entram na vida do artista e ele perde um pouco as rédeas do trabalho. Isso aconteceu comigo seis vezes. Tive seis empresários, acho que aprendi. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário