sábado, 6 de novembro de 2010

Angélica depois de soltar os demônios

Revista Isto é Gente Edição 103
A apresentadora passa de menina superprotegida a mulher superpoderosa e diz que agora tem a segurança de pedir para sair do ar se estiver insatisfeita na tevê
Desde os 13 anos, Angélica acostumou-se a conviver com as obrigações da vida adulta. Trabalhava duro até de noite, tinha uma agenda repleta de responsabilidades e era cobrada por resultados. Não teve tempo nem para se rebelar contra tudo e todos, atitude comum na adolescência. Os momentos de rebeldia aconteceram somente aos 24 anos. Também estavam fora de época. Angélica já era adulta. Mas, marcar posição deu início a uma fase mais madura da loirinha. Depois de passar por inúmeros questionamentos, tomou as rédeas da carreira e da vida. De menina superprotegida a mulher superpoderosa, agora, a três anos de chegar aos 30, Angélica ensaia sua grande virada. “Hoje não tenho mais medo. Se tiver que quebrar a cara, vou quebrar. Mas vou aprender.” O primeiro passo foi morar sozinha. Contratada pela Rede Globo, Angélica trocou São Paulo pelo Rio de Janeiro há cinco anos. Nos primeiros meses, seus pais Angelina e Francisco se dividiam na ponte aérea. Queriam prolongar ao máximo o momento de cortar o cordão umbilical. Até que, por iniciativa dela, o dia chegou. Angélica se viu sozinha numa cobertura triplex de frente para a praia da Barra da Tijuca, na zona oeste da cidade. Foi duro. Ela chorou, sofreu, se desesperou. Mas mesmo diante de problemas domésticos, não dava o braço a torcer. Procurava resolvê-los. Ainda que tivesse que desistir e pedir uma pizza ao ser confrontada com a geladeira vazia. “Era um misto de dor e prazer. Mas pensava: ô covarde, as mudanças acontecem na vida da gente.” Na vida de Angélica, as transformações são muitas. A mais recente surpreendeu a todos. Depois de um conturbado namoro de três anos com o cantor-ator Maurício Mattar, ela pôs um ponto final na história. E, diferentemente das outras vezes em que terminaram, desta vez a apresentadora garante que não tem volta. “Não houve briga. Sentamos e conversamos”, diz. Hoje, ela afirma que não tem medo de enfrentar o mundo. Tanto que bateu pé até conseguir aprovar o projeto do tão sonhado programa semanal para adolescentes na Globo. Enquanto ele não sai do papel, dedica-se a outras mudanças na sua vida. Algumas ousadas. Trocou a Sony, pela qual gravou todos os seus discos, pela Universal e pretende viajar pelo País fazendo shows com seu recém-lançado 13º CD. Sem playback e com uma banda no palco. Mudança de postura e de visual. As coxas grossas e os fartos cachos no cabelo são coisa do passado. Emagreceu oito quilos e vive de barriguinha para fora. Enfim, uma nova mulher. “Quero que seja um momento de virada”, aposta. Acne a levou ao divã Deitar no divã do analista uma vez por semana foi fundamental para essa retomada. As sessões começaram há quatro anos com o objetivo de pôr fim aos problemas de acne no rosto depois que um dermatologista diagnosticou que o problema era emocional. A análise acabou por jogar luz sobre recantos escondidos da alma. “Tinha muitas perguntas sem resposta”, diz ela. Uma delas era saber se conseguia andar com as próprias pernas. Queria conhecer seus limites. Sempre teve inúmeras pessoas ao seu redor cuidando e fazendo tudo por ela. Superprotegida pela família, a apresentadora hoje acredita que vivia no mundo da fantasia. “Achava que nunca ia morrer e que estava acima do bem e do mal porque estava protegida de tudo e de todos”, conta. Chegou até mesmo a repensar sua carreira. Queria também entender a solidão que sentia quando, depois de fazer um show para milhares de fãs, se encontrava sozinha no quarto de hotel. “Chorar de solidão todo mundo chora um pouco. Mas é complicado quando você acaba de sair de uma multidão.” As respostas surgiram após Angélica tomar uma atitude radical. Conversou com a família e com seu empresário, Marcos Saraiva, e lhes comunicou que a partir daquele momento desejava cuidar ela mesma da sua vida. Atendia os telefonemas e a imprensa pessoalmente. Tomava todas as decisões. A apresentadora diz que se saiu bem, mas viu que não era a sua praia. Gostava mesmo era de estar em cima do palco interagindo com o público. Para as pessoas próximas, era uma insurreição. Ela concorda em termos: “Às vezes sou um pouco rebelde, mas é uma rebeldia controlada”. No fundo, foi uma libertação. “Hoje não consigo mais me imaginar incapaz de alguma coisa.” Conseguiu transformar os momentos de solidão em experiências positivas. “Tenho necessidade de ficar só, encontro o equilíbrio”, diz ela. Quando fica livre das opiniões dos outros, coloca suas idéias para funcionar. Aproveita também as duas horas de ginástica quatro vezes por semana em sua casa para pensar. Ainda ouve a opinião de todos que a cercam mas diz o que quer: “Por mais boazinha que você seja, tem que fazer as coisas por você. Todo mundo tem um lado egoísta pequenininho”. Deixa algumas decisões com os assessores, mas está se acostumando a tomar a frente. “Hoje, 80% da minha vida eu resolvo e no resto eu prefiro ser comandada.” Nesses 20% estão incluídos os negócios. Ela não gosta. Admite que erra algumas vezes por acomodação. Até tem preguiça de ler um contrato. Mas como sabe que será responsabilizada se algo der errado, pensa duas vezes e encara a tarefa. “Já tive problemas e faço uma força para estar participando”, diz. Ganhou coragem. Há um ano, viveu momentos conturbados na carreira ao sair de férias na Globo. Sua participação em Bambuluá foi reduzida às chamadas de desenhos. Foram oito meses como coadjuvante. Ela garante que isso não se repetiria hoje: “Agora tenho segurança para falar: ‘Me tirem do ar’.” Também firma posição ao exigir um programa semanal para o público infanto-juvenil como reza seu contrato com a Globo. Acostumada a lidar com adolescentes desde que comandava o musical Milk Shake na extinta Rede Manchete, a apresentadora quer resgatar os jovens. “Sinto falta de ter um maior contato com meu público”, reclama. Durante quatro meses tentou emplacar o projeto. A primeira tentativa, frustrada, foi com o diretor Jayme Monjardim. Eles trabalharam juntos em Milk Shake e o diretor de Terra Nostra foi convidado pela própria Angélica para dar formato ao programa. O projeto, que ia mais pela linha da dramaturgia, não agradou à cúpula da Rede Globo.

Angélica recorreu então a José Bonifácio Brasil de Oliveira, o Boninho, seu diretor em Angel Mix e Caça-Talentos por dois anos. Foram idealizados dois projetos e um deles foi aprovado pela direção da emissora. Será um programa de variedades que
misturará jogos, entrevistas, temas sociais e musicais. Com a volta de Mário Lúcio Vaz à direção artística da Globo, a estréia do programa, prevista para setembro, foi adiada. Deve entrar na grade somente no início do próximo ano. O horário e o dia da semana ainda são uma incógnita. Há duas hipóteses: ou entrará depois da novela das oito em algum dia da semana ou, o que é mais provável, aos sábados.

Angélica não vê problemas em dividir as tardes com Luciano Huck. Admite que isso até já foi tema de conversas entre os dois. “Os nossos estilos são diferentes, mas seria o máximo”, diz ela. Entrar na programação dominical é um projeto distante. “Não tenho vontade de estar no domingo ainda”, diz ela. Apesar da empolgação com seu programa semanal, Angélica quer estar todos os dias na telinha. E diz não se sentir ameaçada pelo fato de Marlene Mattos, diretora da Globo, ter entregue à cúpula o projeto de um infantil para a Xuxa. “Tem espaço para as duas”, diz. A opinião é compartilhada pela Rainha dos Baixinhos. “A Xuxa sempre também achou isso”, diz Marlene. Angélica jura que não se importa em dividir o horário com Xuxa, mesmo que seu tempo no ar seja abreviado. O que a incomoda é ouvir que são inimigas.


Angélica começou a fazer análise
há quatro anos. As sessões semanais acabaram por jogar luz sobre recantos escondidos da alma. “Tinha muitas perguntas sem resposta”, diz ela. Angélica queria conhecer seus limites e decidiu tomar a frente de sua vida e carreira

Concorrência com xuxa
Durante quase toda a carreira de Angélica, as duas loiras foram concorrentes, ocupando o mesmo horário em emissoras diferentes. Ambas, porém, garantem que nunca houve problema. Apesar de terem se aproximado recentemente, com as duas idas de Angélica ao Planeta Xuxa e com o convite para ela interpretar uma fada no próximo filme de Xuxa, as duas não são amigas. “O que há é respeito uma pela outra. Somos pessoas diferentes, com pensamentos diferentes”, diz. Marlene Mattos não economiza elogios à Angélica. “Ela não é só uma menina bonita. Ela pode fazer o que quer porque tem muito talento”, diz a diretora. O elogio é retribuído. “Uma profissional como a Marlene é uma em um milhão”, afirma. Mas acha que não daria certo se trabalhassem juntas porque ambas têm personalidades fortes. As idas e vindas de Angélica em cinco anos de Globo acabaram abalando o rendimento de sua marca. Já chegou a contabilizar 400 produtos licenciados com o seu nome. Hoje, são 120 como esmaltes, biscoitos e brinquedos. Uma linha de jóias e roupas deve ser lançada em breve. As cifras também diminuíram drasticamente. Até 1999, seu nome movimentava R$ 80 milhões por ano. Atualmente, o valor chega a menos da metade: R$ 35 milhões anuais. A explicação é que ela está menos na mídia. Mas, Angélica continua uma marca consagrada. “Ela tem credibilidade no mercado”, afirma seu empresário, Marcos Saraiva. Mesmo assim, Angélica acha que sua carreira está bem dirigida. Em cinco anos de Rede Globo, seu contrato já foi renegociado três vezes por conta de convites do SBT e da Record. Agora, se prepara para sentar à mesa de negociação novamente, pois seu contrato acaba em dezembro. Ela conta que já começaram as conversas para a renovação, apesar de ter recebido proposta da Band. “Sou uma profissional como outra qualquer e vou trabalhar onde me queiram”, diz ela, que até os 21 anos nunca tinha tirado férias. Seu desejo, porém, é permanecer na Globo. A apresentadora afirma que não é cobrada pelos índices de audiência.

O que já foi uma dor de cabeça para ela, hoje não é motivo de preocupação. Apesar de disputar Ibope com Eliana, da Record, para Angélica elas estão em patamares diferentes. “Eliana não é concorrente para mim”, diz ela. “Nunca consegui vê-la como concorrente por mais que tentasse.” Procurada, Eliana não quis comentar a declaração. A apresentadora da Record fatura mais que Angélica (R$ 40 milhões por ano) e tem o dobro de produtos licenciados.


O fim do namoro As mudanças profissionais e pessoais caminham juntas. O fim do relacionamento com Maurício Mattar não significa uma ruptura total entre os dois, diz Angélica. Eles ainda não se falaram por telefone, mas pretendem continuar amigos. “Para não estragar a amizade, a gente não podia continuar junto”, conta. A apresentadora prefere guardar na lembrança não só os bons momentos. Diz que os maus foram essenciais para o amadurecimento. E confessa: “O Maurício foi o homem mais importante da minha vida”. Ambos foram fundamentais na vida do outro. Maurício a ajudou a tomar coragem para fazer o que tem vontade e soltar os demônios. Mesmo que isso tenha causado atritos com a família, como no episódio em que viajou com o namorado para o Chile, em 1999, sem avisar a ninguém. Angélica afirma que isso fez parte do seu crescimento. E não se arrepende de ter posto a relação com sua família em risco. “Enfrentei por amor e ponto”, diz. Ela contribuiu para levantar a auto-estima de Maurício. Hoje, depois de uma temporada na Record, ele está de volta à Globo na novela A Padroeira e garante ter abandonado as drogas. Esse foi o principal obstáculo que tiveram de enfrentar. Seus pais, Francisco e Angelina, repudiavam o romance por achar que o envolvimento de Maurício com as drogas prejudicaria a carreira e a imagem de sua filha. Angélica não concorda e se irrita até hoje ao ouvir comentários maldosos sobre o relacionamento. “Tem gente que acha que eu fui usada, que fiquei com ele para ajudá-lo e que quando ele estava bem eu saí fora”, reclama. E usa uma frase do próprio Maurício para rebater as críticas. “O tempo é rei.” Ao lado do ator no auge da dependência e no início de seu tratamento, Angélica manteve o equilíbrio de sempre. “Eu nunca usei drogas nem caí em roubada profissional ou meti os pés pelas mãos”, diz. Com o fim do namoro, adiou o sonho de ser mãe. É uma vontade antiga que espera realizar até os 30 anos. “Antes de ter um filho, preciso primeiro arranjar um pai”, diz. “Não quero ter um filho e depois conhecer alguém. Quero ter uma família. Tudo mudou na minha cabeça, mas isso ficou.” Por enquanto, Angélica aproveita a vida de solteira. Na madrugada da sexta-feira 13, foi vista aos beijos com um moreno numa pizzaria no Rio. Segundo a coluna de Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, é Luiz André Calainho, ex-vice-presidente da Sony, hoje na rádio Jovem Pan. Com as transformações por que passou, a apresentadora consegue ter distanciamento para avaliar sua trajetória. “Minha história de vida é essa, bem perfeitinha, por mais que tenha passado por momentos conturbados.” Fonte:Isto é Gente

Nenhum comentário:

Postar um comentário